O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 155 / 279

Desde há um mês que irritava tão bem os sentidos de Eugène, que tinha acabado por lhe atingir o coração. Se, nos primeiros momentos da relação, o estudante pensara ser o mestre, a senhora de Nucingen tinha-se tornado mais forte, com a ajuda desse estratagema que punha em movimento em Eugène todos os sentimentos, bons ou maus, dos dois ou três homens que existem num jovem de Paris. Seria nela um cálculo? Não, as mulheres são sempre verdadeiras, mesmo no meio das maiores falsidades 'que possam cometer, porque cedem a qualquer sentimento natural. Talvez Delphine, após ter deixado de repente, esse jovem ter tanto domínio sobre ela e lhe ter mostrado demasiado afecto, obedecesse a um sentimento de dignidade, que a fazia ou voltar atrás nas suas concessões, ou gostar de as suspender. É tão natural para uma parisiense, no momento mesmo em que a paixão a arrasta, hesitar na queda, pôr à prova o coração daquele em quem vai depositar o futuro! Todas as esperanças da senhora de Nucingen tinham sido traídas uma primeira vez, e a sua fidelidade para com um jovem egoísta acabava por não ser reconhecida. Podia com todo o direito ser desconfiada. Talvez tivesse entrevisto nas maneiras de Eugène, que o rápido sucesso tinha tornado vaidoso, uma espécie de desdém causado pelas estranheza da sua situação. Desejava talvez parecer imponente a um homem dessa idade, e achar-se grande face a ele após ter sido durante tanto tempo pequena frente àquele por quem tinha sido abandonada. Não queria que Eugène julgasse uma fácil conquista, precisamente porque ele sabia que tinha pertencido a de Marsay. Enfim, após ter sofrido o prazer degradante de um verdadeiro monstro, um jovem libertino, ressentia tanta doçura a passear nas regiões floridas do amor, que era talvez um encanto para ela admirar aí todos os aspectos, ouvir demoradamente os estremecimentos e deixar-se longamente acariciar pelas castas brisas.




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