- Está triste, senhor Eugène? - disse-lhe Victorine após um momento de silêncio.
- Qual o homem que não tem tristezas! - respondeu Rasrignac.
- Se tivéssemos a certeza de sermos amados com uma dedicação que nos recompensasse dos sacrifícios que estamos sempre dispostos a fazer, talvez nunca tivéssemos tristezas.
A menina Taillefer lançou-lhe, como única resposta, um olhar que não enganava ninguém.
- A menina, tem a certeza do seu coração hoje, mas afirmaria que nunca irá mudar?
Um sorriso veio vaguear nos lábios da pobre rapariga como um raio saído da alma e fez brilhar tanto a sua cara que Eugène ficou assustado por ter provocado uma tão viva explosão de sentimentos.
- O quê! Se amanhã fosse rica e feliz, se uma fortuna imensa lhe caísse das nuvens, ainda amaria o jovem pobre que lhe agradou durante os dias de tristeza?
Ela fez um belo aceno com a cabeça.
- Um jovem bem infeliz?
Novo sinal.
- Que tontices está para aí a dizer? - gritou a senhora Vauquer.
- Deixai-nos em paz - respondeu Eugène -, nós compreendemo-nos.
- Haveria então promessa de casamento entre o cavalheiro Eugène de Rastignac e a menina Victorine Taillefer? - disse Vautrin com a sua grossa voz, mostrando-se de repente à porta da sala de jantar.
- Ah! Assustou-me - disseram em uníssono a senhora Couture e a senhora Vauquer.
- Poderia escolher pior - respondeu rindo Eugène a quem a voz de Vautrin causou a mais cruel emoção que já tinha ressentido.
- Não queremos piadas de mau gosto, senhores! - disse a senhora Couture. - Minha filha, voltemos para o nosso quarto.
A senhora Vauquer seguiu as duas pensionistas para economizar a sua vela e fogão, passando o serão no quarto delas. Eugène encontrou-se só, frente a frente com Vautrin,
- Sabia bem que lá chegaria - disse esse homem, guardando um sangue-frio inabalável.