O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 158 / 279

- Mas escute! Tenho tanta delicadeza como qualquer outro. Não se decide neste momento, não está nos seus melhores dias. Tem dívidas. Não quero que seja a paixão, o desespero, mas a razão que vos determina a vir ter comigo. Talvez precise de alguns milhares de ecus. Tome, quer?

Esse demónio pegou no bolso um porta-moedas e de lá tirou três notas que abanou frente aos olhos do estudante. Eugène estava na mais cruel das situações. Devia dinheiro ao marquês de Ajuda e ao conde de Trailles 100 luíses que tinha perdido numa aposta e que tinha de repor sem falta. Não os tinha, e não ousava ir passar o serão a casa da senhora de Restaud, onde o esperavam. Era um desses serões sem cerimónias onde se come miniaturas, onde se bebe chá, mas onde se pode perder 6000 francos no whist.

- Senhor - disse-lhe Eugène, escondendo dificilmente um tremor convulsivo -, após o que confiou, deverá compreender que me é impossível ficar a dever-lhe favores.

- Pois bem! Ter-me-ia deixado triste se tivesse falado doutro modo retomou o tentador. - É um belo jovem, delicado, orgulhoso como um leão e doce como uma rapariga. Seria uma bela presa para o diabo. Gosto dessa qualidade nos jovens. Mais uma ou duas reflexões da alta política e verá como o mundo é. Desempenhando lá algumas pequenas cenas de virtude, o homem superior aí satisfaz todas as suas fantasias sendo aplaudido pelos estúpidos da plateia. Dentro de poucos dias virá a nós. Ah! Se quisesse tornar-se meu aluno, fá-lo-ia chegar a tudo. Não formularia um desejo que não fosse realizado na hora, não importa o que fosse: honra, fortuna, mulheres. Toda a civilização ser-lhe-ia dada como o manjar dos deuses. Seria o nosso filho mimado, o nosso Benjamim, morreríamos todos por si com prazer.





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