O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 16 / 279

Um traço do seu carácter era pagar generosamente quinze francos por mês para o gloria, que tomava à sobremesa. Pessoas menos superficiais do que esses jovens, levados pelo turbilhão da vida parisiense, ou esses velhos indiferentes àquilo que não os tocava directamente, não se teriam demorado sobre a sensação duvidosa que lhes causava Vautrin. Sabia ou adivinhava os negócios dos que o rodeavam, enquanto ninguém podia penetrar nos seus pensamentos e ocupações. Apesar de ter erguido a aparente boa disposição, a constante boa vontade e alegria como uma barreira entre ele e os outros, muitas vezes deixava entrever a assustadora profundidade do seu carácter. Muitas vezes uma frase digna de Juvenal, e com a qual parecia gostar de desafiar as leis, chicotear a alta sociedade, convencê-la Atraída, talvez sem querer, pela força de um ou pela beleza do outro, a menina Taillefer dividia os olhares furtivos, os pensamentos secretos, entre este quarentão e o jovem estudante; mas nenhum deles parecia pensar nela, apesar de, de um dia para o outro, o acaso poder mudar a posição dela e torná-la num bom partido. Além disso, ninguém se dava ao trabalho de verificar se as desgraças alegadas por um deles eram verdadeiras ou falsas. Todos tinham uns pelos outros uma indiferença misturada com desconfiança que advinha de cada situação individual em si. Sabiam que eram impotentes para aliviar a suas dores e todos ao contá-las uns aos outros, tinham esgotado o cálice das condolências. Tal como um velho casal, não tinham mais nada a dizer-se. Restava, portanto, entre eles, as relações de uma vida mecânica, como um mecanismo sem óleo.




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