O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 180 / 279

Mas vai cair no chão, meu Deus! Não é indecente um homem nesta idade perder assim os sentidos! Dir-me-á que não se perde o que não se tem. - Sylvie, levou-o ao quarto.

Sylvie pegou no velhote por debaixo do braço, fê-lo andar e atirou-o todo vestido como uma mala por cima da cama.

- Pobre rapaz - dizia a senhora Couture, afastando os cabelos de Eugène que lhe caíam nos olhos. - É como uma rapariga, não sabe o que é um excesso.

- Ah! Posso dizer que desde há 31 anos que dirijo esta pensão - disse a senhora Vauquer. - Já me passaram bastantes jovens pelas mãos, como se diz, mas nunca vi nenhum tão gentil, tão distinto quanto o senhor Eugène. Não é bonito quando dorme? Encostai-lhe a cabeça ao ombro, senhora Couture. Bah! Cai por cima da menina Victorine: há um Deus para as crianças. Mais um pouco, partia a cabeça no canto da cadeira. Os dois fariam um belo casal.

- Minha vizinha, calai-vos então - gritou a senhora Couture. Você diz coisas...

- Bah!•- disse a senhora Vauquer -, ele não me ouve. Vamos, Sylvie, vem vestir-me. Vou pôr o meu grande corpete.

- Pois sim! O seu grande corpete, após ter jantado, senhora - disse Sylvie. - Não, procurai alguém para apertá-lo, não serei eu o seu assassino. Estaria a cometer assim uma imprudência que lhe poderia custar a vida.

- Pouco me interessa, temos de honrar o senhor Vautrin.

- Gosta assim tanto dos seus herdeiros?

- Vamos, Sylvie, não há razões para isso - disse a viúva, ao sair.

- Na idade dela - disse a cozinheira, mostrando a patroa a Victorine.

A senhora Couture e a pupila, ao ombro de quem Eugène repousava, ficaram sozinhas na sala de jantar. O ressonar de Christophe ressoava na pequena casa silenciosa e fazia sobressair o sono pacífico de Eugène, que dormia tão graciosamente quanto uma criança.





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