O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 182 / 279

A juventude é bem bonita, senhora Couture. Pobre criança, dorme - disse, contemplando Eugène. - O bem vem por vezes dormindo, senhora - continuou, dirigindo-se à viúva. - O que me prende a esse rapaz, o que me emociona, é conhecer e saber que a beleza da sua alma está em harmonia com a da sua figura. Vede, não é um querubim pousado no ombro de um anjo? É digno de ser amado, este rapaz! Se fosse mulher, quereria morrer (não, não tão estúpido!) viver por ele. Ao admirá-lo desta forma, senhora - disse em voz baixa, inclinando-se ao ouvido da viúva. - Não posso impedir-me de pensar que Deus os criou para pertencerem um ao outro. A providência tem vias bem escondidas, sonda os rins e os corações - gritou em voz alta. - Vendo-vos unidos, meus filhos, unidos por uma mesma pureza, por todos os sentimentos humanos, penso que é impossível que jamais sejais separados no futuro. Deus é justo. Mas - disse à rapariga - parece-me ter visto em si as linhas da prosperidade. Dá-me a sua mão, menina Victorine? Tenho conhecimentos de quiromancia, já li muitas vezes a boa ventura. Vamos, não tenha medo. Oh! Que vejo? Palavra de homem honesto, será dentro de pouco tempo uma das mais ricas herdeiras de Paris. Encherá de felicidade aquele que vos ama. O seu pai chama-a junto dele. Irá casar com um homem de título, jovem, belo, que a adora.

Nesse momento, os passos pesados da vaidosa viúva que descia interromperam as profecias da Vautrin.

- Eis mamã Vauquer bela como um astro, enrolada como uma cenoura. Não estamos um pouco apertados? - disse-lhe, pondo a mão no colo dela. - Os avançados estão bem espremidos, mamão Se choramos, haverá uma explosão, mas apanharei os restos com um cuidado de antiquário.

- Este conhece a linguagem da galantaria francesa! - disse a viúva ao ouvido da senhora Couture.





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