O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 183 / 279

- Adeus, crianças - continuou Vautrin virando-se para Eugène e Victorine. - A minha bênção - disse-lhes, pondo as mãos sobre as cabeças deles. - Crede-me, menina, é algo muito forte os votos de um homem honesto, devem dar felicidade, Deus ouve-os.

- Adeus, minha querida amiga - disse a senhora Vauquer à pensionista. - Pensais - acrescentou em voz baixa - que o senhor Vautrin tem algumas intenções a meu respeito?

- Eu! Eu!

- Ah! Minha querida mãe - disse Victorine, suspirando e olhando para as mãos, quando as duas mulheres ficaram sozinhas -, se esse bom senhor Vautrin tivesse razão!

- Mas só é preciso uma coisa para isso - respondeu a velha senhora -, somente que o monstro do teu irmão caia do cavalo.

- Ah! Mamã.

- Meu Deus, talvez seja um pecado desejar o mal de seu inimigo - retomou a viúva. - Pois bem, farei penitência. Na verdade, levarei de bom coração flores ao seu túmulo. Mau coração! Não tem coragem de falar pela mãe, de quem guarda a herança em teu detrimento com mexericos. A minha prima tinha uma bela fortuna. Para tua desgraça, nunca se falou da quota dela no contrato.

- A minha felicidade ser-me-ia muitas vezes penosa de carregar se custasse a vida a alguém - disse Victorine. - E, se fosse preciso, para ser feliz, que o meu irmão desaparecesse, preferia ficar para sempre aqui.

- Meu Deus, como diz esse bom senhor Vautrin, que, como vês, é cheio de religião - retomou a senhora Couture -, tive o prazer de saber que não era incrédulo como os outros, que falam de Deus com menos respeito do que o Diabo o faz. Pois bem! Quem pode saber por que vias a providência nos quer conduzir?

Ajudadas por Sylvie, as duas mulheres acabaram por transportar Eugène para o quarto dele, deitaram-no na cama e a cozinheira tirou-lhe a roupa para o pôr à vontade.





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