O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 185 / 279

Quando ela exprimiu os seus pensamentos a essa raposa, ele sorriu e quis desviar as desconfianças da velha rapariga.

- Engana-se - respondeu. - Collin é a Sorbonne mais perigosa que já se encontrou junto dos ladrões. Mais nada. Os malandros sabem-no bem; ele é o seu estandarte, o apoio, o Bonaparte enfim; todos o amam. Esse engraçadinho nunca nos entregaria a mona para pôr na praça de Greve.

A menina Michonneau não compreendendo, Gondureau explicou-lhe as duas palavras de calão que tinha utilizado. Sorbonne e mona são duas expressões enérgicas da linguagem dos ladrões, que sentiram a necessidade de considerar a cabeça humana sob dois aspectos. A Sorbonne é a cabeça do homem vivo, o juízo, o pensamento. A mona é uma palavra de desprezo destinado a exprimir quanto á cabeça fica pouco valiosa quando é cortada.

- Collin enrola-nos - retomou. - Quando encontramos homens desses que foram forjados em barras de aço à inglesa, temos a solução de os matar se, durante a prisão, tentam a mais pequena resistência. Contamos na verdade sobre algumas vias para matar Vautrin amanhã de manhã. Evitamos assim o processo, as despesas de guarda, a comida, e isso alivia a sociedade. Os procedimentos, as citações das testemunhas, as indemnizações, a execução, tudo o que deve legalmente desembaraçar-nos desses maus sujeitos custa mais de 1000 ecus. Há economia de tempo. Dando um bom golpe de lança no estômago da Morte-em-Pé, impediremos a corrupção de cinquenta maus sujeitos que ficarão bem quietinhos à sombra do tribunal constitucional da polícia. Isso é que é polícia bem feita. Segundo os verdadeiros filantropos, conduzir-se de tal forma, é prevenir os crimes.

- Mas é servir o País - disse Poiret.

- Ora essa! - respondeu o chefe.





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