- Está noite você está a dizer coisas sensatas. Sim, é certo, servimos o País. Por isso o mundo é bem injusto para connosco. Fazemos à sociedade grandes serviços ignorados. Por fim, cabe a um homem superior pôr-se por cima dos preconceitos e a um cristão adoptar as desgraças que o bem arrasta consigo quando não é desempenhado segundo as ideias recebidas. Paris é Paris, está a ver? Esta palavra explica a minha vida. Tenho a honra de a cumprimentar menina. Estarei com a minha gente no Jardin du Roi amanhã. Envie o Christophe à Rua de Buffon, a casa do senhor Gondureau, onde morava antes. Senhor, sou um seu servidor. Se alguma vez for roubado, utilizai-me para achar esse bem, estou ao seu serviço.
- Pois bem - disse Poiret à menina Michonneau -, há imbecis a quem a palavra polícia põe de cima para baixo. Este senhor é muito amável e o que ele nos pede é simples como tudo.
A manhã seguinte deveria tornar-se um dos dias mais extraordinários da história da casa Vauquer. Até então o acontecimento mais insólito desta vida pacífica fora o aparecimento meteórico da falsa condessa de Ambermesnil. Mas tudo ia perder a cor frente às peripécias deste grande dia, que seria eternamente falado nas conversas da senhora Vauquer. Primeiro Goriot e Eugène de Rastignac dormiram até às 11 horas. A senhora Vauquer, que tinha voltado à meia-noite da Gaieté, ficou até às 10 horas e 30 minutos na cama. O longo sono de Christophe, que tinha acabado o vinho oferecido por Vautrin, causou atrasos no serviço da casa. Poiret e a menina Michonneau não se queixaram pelo facto do pequeno-almoço se atrasar. Quanto a Victorine e à senhora Couture, dormiram a manhã inteira. Vautrin saiu antes das 8 horas e voltou no momento exacto em que se servia o pequeno-almoço.
