Ninguém portanto reclamou, quando, por voltadas 11 horas e 15 minutos, Sylvie e Christophe foram bater a todas as portas, dizendo que o pequeno-almoço estava servido. Enquanto Sylvie e o criado se ausentaram, a menina Michonneau, a primeira a descer, deitou o licor na taça de prata que pertencia a Vautrin e na qual a nata do café aquecia em banho-maria, entre as outras. A rapariga tinha contado com esta particularidade da pensão para dar o golpe. Não foi sem alguma dificuldades que os sete pensionistas se encontraram reunidos. No momento em que Eugène, que se espreguiçava, descia por último, um moço de recados entregou-lhe uma carta da senhora de Nucingen. Essa carta estava escrita nos seguintes termos:
Não tenho nem falsa vaidade nem cólera consigo, meu amigo. Esperei por si até às 2 horas depois da meia-noite. Esperar um ser que se ama! Quem conheceu tal suplício não o impõe a ninguém. Bem vejo que ama pela primeira vez. Que aconteceu? A inquietação apoderou-se de mim. Se não tivesse temido revelar os segredos do meu coração; teria ido saber o que lhe acontecia de feliz ou infeliz. Mas sair a tal hora, quer a pé, quer de carro, não seria perder-me? Senti a desgraça de ser mulher: Descanse-me, explique-me por que não veio, após o que lhe terá dito meu pai. Irei zangar-me, mas irei também perdoá-lo. Estará doente? Porquê morar tão longe? Uma palavra, por piedade. Até logo, não é verdade? Uma palavra bastará se estiver ocupado. Dizei: Acorro, ou sofro. Mas se estivesse mal de saúde, meu pai teria vindo dizê-lo! Que aconteceu então?...
- Sim. Que aconteceu? - gritou Eugenc que se precipitou na sala de jantar, amachucando a carta sem acabar de a ler - Que horas são? - Onze e meia - disse Vautrin, adoçando o café.
O evadido deitou a Eugène o olhar friamente fascinante que alguns homens eminentemente magnéticos têm o dom de lançar, e que, diz-se, acalma os loucos furiosos nas casas de alienados.