O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 192 / 279

- Vem lá uma bela história - disse o interno do Hospital Cochin. - O filho Taillefer combateu num duelo com o conde Franchessini, antigo elemento da guarda real, que lhe enfiou dois dedos de ferro na testa. Eis a pequena Victorine um dos mais ricos partidos de Paris. Hem! Se tivéssemos sabido? Que jogo de azar ou de sorte que é a morte! É verdade que Victorine olhava para ti com olhos de mel, a ti?

- Cala-te, Bianchon, nunca casarei com ela. Amo uma mulher deliciosa, sou amado por ela, eu...

- Dizes isso como se quisesses flagelar-te para não seres infiel. Mostra-me então uma mulher que valha o sacrifício da fortuna do senhor Taillefer.

- Todos os demónios estão então contra mim? - gritou Rastignac.

- Contra quem gritas tu assim? És maluco? Dá-me a tua mão - disse Bianchon -, vou tomar-te o pulso. Tens febre.

- Vai lá a casa da mãe Vauquer - disse-lhe Eugène -, esse pérfido do Vautrin acaba de cair como uma estaca no meio do chão.

- Ah! - disse Bianchon, que deixou Rastignac só. - Confirmas as desconfianças que quero ir verificar.

O longo passeio do estudante de direito foi solene. Deu de certa forma a volta à sua consciência. Se examinou, se hesitou, pelo menos a sua integridade saiu desta amarga e terrível discussão sofrida como uma barra de ferro que resiste a todos os golpes. Lembrou-se das confidências que o pai Goriot lhe tinha feito na véspera, lembrou-se do apartamento escolhido para ele perto de Delphine, na Rua de Artois, pegou de novo na carta, voltou a lê-la, beijou-a. «Um amor tal é a minha tábua de salvação», pensou. «Este pobre velhote já sofreu bastante pelo coração. Não revela nada dos seus segredos, mas quem não os adivinharia! Ora! pois bem, cuidarei dele como de um pai, dar-lhe-ei mil alegrias.





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