Quando Eugène entrou, os seus olhos cruzaram os do irnperturbável Vautrin cujo olhar o penetrou tão fundo no coração e lá remexeu com tanta força algumas cordas negativas, que teve calafrios.
- Então, querida criança - disse-lhe o evadido -, a morte terá de voltar várias vezes comigo. Segundo estas senhoras, aguentei vitoriosamente uma subida de sangue que teria morto um boi.
- Ah! Bem pode dizer um touro - gritou a viúva Vauquer.
- Estará você zangado por me ver vivo? - disse Vautrin ao ouvido de Rastignac de quem julgou adivinhar os pensamentos. -Isso seria obra de um homem extremamente forte!
- A bem dizer! - disse Bianchon. - A menina Michonneau falava antes de ontem de um homem com a alcunha de Morte-em-Pé, esse nome ficar-lhe-ia a matar.
Essa palavra produziu em Vautrin o efeito de um raio: ficou branco e cambaleou, o olhar magnético caiu como um raio de sol em cima da menina Michonneau, a quem esse jacto de vontade partiu as pernas em dois. A rapariga deixou-se cair em cima de uma cadeira. Poiret avançou rapidamente entre ela e Vautrin, compreendendo o perigo, visto que a figura do evadido se tornou ferozmente significativa tirando a máscara benigna sob a qual se escondia a sua verdadeira natureza. Sem nada ainda compreender a esse drama, todos os pensionistas ficaram boquiabertos.
Nesse momento, ouviu-se os passos de vários homens e o barulho de algumas armas que os soldados faziam bater na calçada da rua. No momento em que Collin procurava maquinalmente uma saída olhando para as janelas e paredes, quatro homens assomaram à porta do salão. O primeiro era o chefe da Polícia de Segurança, os outros três eram oficiais da Justiça.
- Em nome da lei e do rei - disse um dos oficiais cujo discurso foi coberto por um murmúrio de espanto.
