O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 196 / 279

A gota de água fria que arrefeceu a raiva dele foi uma reflexão rápida como um raio. Pôs-se a sorrir e olhou para a peruca.

- Não estás nos teus dias de boa educação - disse ao chefe da Polícia de Segurança. E estendeu as mãos aos polícias chamando-os com um sinal de cabeça. - Senhores agentes, ponham-me as algemas ou as cadeias. Tomo como testemunhas as pessoas presentes que não estou a resistir.

Um murmúrio de admiração, arrancado pela prontidão com que a lava e o fogo saíram e voltaram a entrar nesse vulcão, ressoou na sala.

- Isso deixa-te sem voz, senhor condenado r - retomou o evadido olhando o célebre director da polícia judiciária.

- Vamos, toca a despir - disse-lhe o homem da pequena Rua Sainte-

-Anne com um olhar de desprezo.

- Porquê? - disse Collin. - Há aqui senhoras. Não nego nada e entrego-me.

Fez urna pausa e olhou para a assembleia como um orador que vai dizer coisas surpreendentes.

- Escrevei, papá Lachapelle - disse dirigindo-se a um pequeno velhote de cabelos brancos que se tinha sentado na ponta da mesa após ter puxado de uma carteira a ordem de prisão. - Reconheço ser Jacques Collin, conhecido como Morte-em-Pé, condenado a 20 anos de prisão, e acabo de provar que não roubei a alcunha. Se tivesse levantado o mais pequeno dedo - disse aos pensionistas - estes três denunciantes ali espalhavam todo o meu sangue pelo chão doméstico da mamã Vauquer. Estes engraçadinhos lembram-se de cada emboscada!

A senhora Vauquer sentiu-se mal ao ouvir estas palavras.

- Meu Deus! É de ficar doente, eu que estava ontem na Gaieté com ele - disse a Sylvie.

- Filosofia, mamã - continuou Collin. - Será uma desgraça ter ido ontem para o meu camarote, na Gaieté? - gritou. - Será a senhora melhor que nós? Temos menos infâmia nos ombros do que a senhora no coração.





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