O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 197 / 279

Membros moles de uma sociedade gangrenada: o melhor de vocês não me resistia. Os olhos deles pararam sobre Rastignac a quem dirigiu um sorriso gracioso que contrastava singularmente com a rude expressão da figura dele.

- O nosso pequeno negócio continua ainda, meu anjo, em caso de aceitação, nunca se sabe! Você sabe? Cantou:


A minha Fanchette é encantadora
Na sua simplicidade

- Não fiqueis envergonhado - continuou -, sei fazer as minhas cobranças. Temem-me demasiado para me vigarizar!

A prisão com os seus costumes e linguagem, com as suas transições bruscas do agradável ao horrível, a grandeza medonha, a familiaridade, a baixeza, foram de repente representadas nesta interpelação e por esse homem, que deixou de ser um homem, mas o tipo de toda uma nação degenerada, de um povo selvagem, brutal e ágil. Num momento, Collin tomou-se num poema infernal onde se pintaram todos os sentimentos humanos, menos um, o do arrependimento. O olhar dele era o do arcanjo caído que quer sempre guerra. Rastignac baixou os olhos aceitando esse parentesco criminal como uma expiação pelos seus maus pensamentos.

- Quem me traiu? - disse Collin, passeando o olhar terrível sobre a assembleia. E parando-o sobre a menina Michonneau. - Foste tu disse-lhe -, velha preguiçosa, provocaste uma falsa apoplexia, curiosa! Dizendo duas palavras, poderia fazer-te cortar o pescoço em oito dias. Perdoo-te, sou cristão. Alias não foste tu que me vendestes. Mas quem? Ah! Ah! Estão à procura lá em cima - gritou ao ouvir os oficiais da Polícia Judiciária que abriam as gavetas e apoderavam-se das suas coisas. - Procurai os pássaros, que voaram desde ontem. E não saberão nada. Os meus livros de contas estão aqui - disse, batendo na testa. - Já sei quem me vendeu agora.





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