O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 20 / 279

Além disso, a barriga da perna forte, saída, prognosticava, tal como o nariz quadrado, qualidades morais que pareciam ser do agrado da viúva, e que era confirmado pela face lunar e ingenuamente estúpida do bom homem. Devia ser um animal bem constituído, capaz de gastar todo o espírito em sentimento. O cabelo já escasso, que o cabeleireiro da Escola Politécnica lhe vinha arranjar todas as manhãs, desenhava cinco pontas na testa baixa e decorava agradavelmente a sua figura. Apesar de ser um pouco boçal, estava tão bem vestido, fumava tão aprazivelmente o seu tabaco, cheirava-o como um homem seguro de ter sempre a tabaqueira cheia de macouba, que no dia em que o senhor Goriot se instalou na casa dela, a senhora Vauquer deitou-se à noite, cozinhando, como uma perdiz em fogo lento o desejo de deixar a mortalha Vauquer para renascer Goriot. Casar-se, vender a pensão, dar o braço a essa fina flor da burguesia, tornar-se uma dama notável no bairro, fazer petições para os indigentes; organizar pequenas partidas no domingo a Choisy, Soissy, Gentilly; ir aos espectáculos quantas vezes quisesse, num camarote, sem esperar pelos convites dados por alguns dos pensionistas no mês de Julho; sonhou com toda a riqueza dos pequenos lares parisienses. Não tinha contado a ninguém que possuía quarenta mil francos poupados um a um. Sem dúvida que pensava, com base na fortuna adquirida, que era um bom partido. «Quanto ao resto, estou tão em forma quanto ele!», pensava, dando voltas na cama, como para se certificar a si própria dos encantos que a gorda Sylvie encontrava todas as manhãs bem marcados na cama.

Desde esse dia, durante mais ou menos três meses, a viúva Vauquer aproveitou o cabeleireiro do senhor Goriot e dedicou algum dinheiro para o seu arranjo pessoal, que tinha descurado devido à necessidade de dar à casa um certo decoro em harmonia com as pessoas distintas que a frequentavam.





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