Capítulo 1: O PAI GORIOT
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Aí sobretudo o amor é essencialmente gabarola, desenvergonhado, gastador, charlatão e fastuoso. Se todas as mulheres da corte de Luís XIV invejaram à menina de La Valliêre o arrebatamento de paixão que fez esquecer a esse grande príncipe que os seus punhos de renda custavam cada um 1000 moedas quando os rasgou para facilitar ao duque de Vermandois a sua entrada na cena do mundo, que podemos nós pedir de mais ao resto da humanidade? Sejam jovens, ricos e com títulos, sejam melhor ainda se puderem; quanto mais grãos de incenso para queimar trouxer em frente ao ídolo, mais ele lhes será favorável, se tiverdes um ídolo. O amor é uma religião e o seu culto custa mais caro do que todas as outras religiões; passa rapidamente, e passa como um rapazola que quer marcar a sua passagem com devastações. O luxo do sentimento é a poesia dos sótãos, sem essa riqueza, que seria do amor? Se há excepções a essas leis draconianas do código parisiense, encontram-se na solidão, nas almas que não se deixaram levar pelas doutrinas sociais, que vivem perto de alguma fonte de águas claras, fugitivas mas incessantes, que fiéis às suas sombras verde:" jantes, felizes por ouvir a linguagem do infinito, escrita por elas em todas as coisas e que reencontram em si próprias. Mas Rastignac, idêntico à maior parte dos jovens, que, antes do tempo, provaram as grandezas, queria apresentar-se todo apetrechado no torneio do mundo; tinha casado com a sua febre e sentia talvez ter a força de o dominar, mas sem conhecer nem os meios nem a finalidade dessa ambição. A defeito de um amor puro e sagrado, que preenche a vida, esta sede de poder pode tornar-se algo de belo, basta retirar todo interesse pessoal e propor-se ter a grandeza de um país como objecto. Mas o estudante ainda não tinha chegado ao ponto em que um homem pode contemplar o curso da vida e julgá-la.
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