O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 22 / 279

- Ah! Minha querida senhora, um homem são como um pêro dizia-lhe a viúva -, um homem perfeitamente bem conservado e que pode ainda dar muitas satisfações a uma mulher.

A condessa fez generosamente observações à senhora Vauquer sobre a sua maneira de vestir, que não estava de acordo com as pretensões alimentadas.

- Tem de se pôr num trinta e um - disse.

Após bastantes cálculos, as duas viúvas foram juntas ao Palácio Real, onde compraram, nas Galerias do Bosque, um chapéu com penas e um boné. A condessa arrastou a amiga para a loja La Petite Jeanette, onde escolheram um vestido e um lenço. Quando estas munições foram utilizadas, e que a viúva estava com todas as cartas na mão, parecia perfeitamente um cartaz da moda. No entanto, encontrou-se tão mudada para bem, que achou-se na obrigação para com a condessa, apesar de ser pouco dada; rogou-lhe que aceitasse um chapéu de vinte francos. Contava, na verdade, pedir-lhe o favor de sondar Gorior e de a elogiar junto dele. A senhora Ambermesnil prestou-se amigavelmente a este jogo e perseguiu o velho fabricante de aletria com quem conseguiu ter uma conversa; mas após o ter achado esquivo, para não dizer rebelde, às tentativas que lhe segredava seu desejo particular de o seduzir para si, saiu revoltada com a grosseria de Goriot.

- Meu anjo - disse à querida amiga -, não conseguirá tirar nada desse homem! É ridiculamente desconfiado, um sovina, um ignorante, estúpido, que só lhe trará dissabores.

Houve entre o senhor Goriot e a senhora Ambermesnil tais coisas, que a própria condessa não quis mais encontrar-se com ele. No outro dia saiu, esquecendo-se de pagar seis meses de pensão e deixando uma dívida avaliada em cinco francos. Apesar de toda a diligência que a senhora Vauquer dispensou nas suas buscas, não conseguiu obter em Paris nenhuma informação acerca da condessa Ambermesnil.





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