O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 222 / 279

Nunca tinha visto um homem num estado tal. Tinha perdido a cabeça, falava em matar-se, delirava. Tive pena dele.

- E acreditas nessas cantigas - gritou o pai Goriot. - É um actor! Encontrei alemães nos negócios, essas pessoas são quase todas de boa fé, cheios de candura, mas quando por debaixo desses ares de franqueza e de bonomia começam a ser sacanas e charlatões são ainda piores do que os outros. O teu marido faz pouco de ti. Sente-se encurralado, clama pela morte, quer ficar mais seguro com o teu nome do que com o dele. Vai aproveitar esta circunstância para se por ao abrigo das sortes ou desgraças do comércio. É tão fino quanto pérfido, é um mau sujeito. Não, não, não irei para a tumba deixando as minhas filhas sem nada. Ainda tenho conhecimentos nos negócios. Ele, segundo diz, enfiou os fundos em empresas, pois bem, os interesses são representados por valores, declarações de dívidas, letras! Que os mostre e nego ceie contigo. Escolheremos as melhores especulações, correremos o risco e teremos os' títulos reconhecidos em nome de Delphine Goríot, casada com separação de bens com o barão de Nucíngen. Mas ele pensa que somos imbecis? Pensa que eu posso suportar durante dois dias a ideia de te deixar sem fortuna, sem pão? Não o suportaria um dia, nem uma noite, nem duas horas sequer! Se essa ideia fosse verdadeira, nunca conseguiria sobreviver a isso. Ora essa! Teria trabalhado durante 40 anos da minha vida, teria carregado sacos nas costas, teria transpirado como um burro. Ter-me-ia toda a vida privado por vocês, meus anjos, que me tornavam todo o trabalho, todo o fardo leve, e hoje a minha fortuna, a minha vida desapareceriam na atmosfera! Isso far-me-ia morrer de raiva. Por tudo o que há de mais sagrado na terra e no céu vamos tirar isso a limpo, verificar os livros, a caixa, as empresas! Não durmo, não me deito, não como antes de me ter sido provado que a tua fortuna está ali por inteiro.





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