O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 237 / 279

Bianchon acedeu de boa vontade visto que assim ainda se aproximava mais do velho pensionista.

- Que tem ele? - perguntou Rastignac.

- A menos que me engane, está queimado! Deve ter-se passado algo extraordinário dentro dele, parece-me estar sob o peso de uma apoplexia cerebral iminente. Apesar da parte de baixo da cara ser bastante calma, os traços superiores puxam para o alto da testa sem ele querer, olha! Depois os olhos estão no estado particular que revela a invasão do líquido no cérebro. Não parece que estão cheios de um pó muito fino? Amanhã saberei mais.

- Não haverá um remédio?

- Nenhum. Talvez possamos adiar um pouco a morte se encontrarmos os meios para determinar uma reacção em direcção às extremidades, para as pernas, mas se amanhã à noite os sintomas não tiveram cessado o pobre homem está perdido. Saberás que acontecimento terá provocado a doença dele? Deve ter recebido um golpe violento debaixo do qual a moral não resistiu.

- Sim - disse Rastignac, lembrando-se que as duas filhas tinham atacado sem tréguas o coração do pai.

«Pelo menos», pensava Eugène, «Delphine ama o pai!»

À noite, nos Italiens, Rastignac tomou algumas precauções a fim de não afligir a senhora de Nucingen.

- Não vos preocupeis - respondeu-lhe ela após as primeiras palavras de Eugène -, meu pai é forte. Só que esta manhã transtornámo-lo um pouco. As nossas fortunas estão em causa, imagina a extensão desta desgraça? Não viveria se o seu afecto não me tornasse insensível para com aquilo que teria visto noutros tempos como angústias mortais. Só existe hoje um único temor, uma única desgraça para mim, é de perder o amor que me dá vontade de viver. Fora esse sentimento tudo me é indiferente, não amo mais nada no mundo. Você é tudo para mim.





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