Os homens mais distintos da corte, os embaixadores, os ministros, as pessoas ilustres de toda a espécie, cheios de condecorações, de fitas, aglomeravam-se junto da viscondessa. A orquestra fazia ressoar os tons da sua música debaixo dos lambris dourados desse palácio, deserto para a sua rainha. A senhora de Beauséant estava em pé à entrada do seu primeiro salão para receber os seus ditos amigos. Vestida de branco, sem nenhum ornamento nos cabelos simplesmente entrançados, parecia calma e não revelava nem dor, nem orgulho, nem falsa alegria. Ninguém podia ler na alma dela. Parecia uma filha de Tântalo de mármore. O sorriso para os amigos íntimos foi por vezes de gozo, mas ela pareceu a todos igual a si própria e mostrou-se tão bem quanto a felicidade alegrava a sua vida, que os mais insensíveis a admiraram, como as jovens romanas aplaudiam o gladiador que sabia sorrindo morrer. O mundo parecia-se ter-se vestido de gala para dar os seus adeus a uma das suas soberanas.
- Tremia só de pensar que não viria - disse esta senhora a Rastignac.
- Minha senhora - respondeu o rapaz com uma voz emocionada, tomando essa última palavra como uma reprimenda -, vim para ser o último a partir.
- Óptimo - disse-lhe, pegando-lhe na mão. - Talvez seja o único aqui em quem possa confiar. Meu amigo, amai uma mulher que possa amar sempre. Não abandonai nenhuma.
Pegou Rastignac pelo braço e levou-o até um sofá, no salão onde se jogava.
- Ide - disse-lhe - a casa do marquês. Jacques, meu criado de quarto, irá levá-lo lá e dar-lhe-á uma carta para ele. Peço-lhe todas as minhas cartas. Ele irá dá-las todas, quero crer que sim. Se tiver as minhas cartas, subi ao meu quarto. Alguém me avisará.
Ela levantou-se para ir ter com a duquesa de Langeais, a melhor amiga que também vinha ao baile.
