O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 26 / 279

negociante tão distinto tornou-se então um larápio, este galanteado r passou a ser um velho brejeiro, Ora, segundo Vautrin, que veio por essa época morar na Casa Vauquer, o pai Goriot era um homem que ia à Bolsa e que, segundo uma expressão bastante enérgica da linguagem financeira, vivia miseravelmente sobre os rendimentos após se ter arruinado. Ora era um desses pequenos jogadores que vão tentar a sorte e ganhar todas as noites dez francos no jogo, ora se fazia dele um espião ligado à alta Polícia, mas Vautrin pretendia que não era suficientemente manhoso para ser um deles. O pai Goriot era ainda um sovina que emprestava dinheiro a curto prazo, um homem que jogava regularmente na lotaria. Encontrava-se nele tudo o que o vício, a vergonha, a impotência degeneram de mais misterioso. Mas, por muito ignóbeis que fossem a sua conduta ou vícios, a aversão que inspirava não ia até bani-lo, pagava a pensão. Além disso, era útil, cada um despejando sobre ele o seu bom ou mau humor com brincadeiras ou invectivas. A opinião que parecia mais provável, e que foi em uníssono adoptada, era a da senhora Vauquer. A ouvi-la, este homem tão bem conservado, são como um pêro e com quem ainda se poderia ter muitas satisfações, era um libertino que tinha gostos estranhos. Eis sobre que factos a viúva Vauquer baseava as calúnias. Alguns meses após a partida dessa desastrosa condessa que tinha sabido viver durante seis meses às suas custas, uma manhã, antes de se levantar, ouviu na escada o ftuftu de uma saia de seda e o passo pequenino de uma mulher jovem e leve que ia para o apartamento de Goriot, cuja porta se tinha imediatamente aberto. Logo, a gorda Sylvie veio dizer à patroa que uma rapariga demasiado bonita para ser honesta, arranjada como uma divindade, calçada com botinas de lá preta que não estavam sujas de lama, tinha-se infiltrado como uma enguia da rua até à cozinha, e tinha perguntado pelo apartamento do senhor Goriot.




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