A senhora Vauquer e a cozinheira puseram-se à escuta e surpreenderam várias palavras ditas com ternura durante a visita, que durou algum tempo. Quando o senhor Goriot reconduziu a sua dama, a gorda Sylvie pegou de imediato na cesta e fingiu ir ao mercado, para seguir o casal apaixonado.
- Minha Senhora - disse à patroa quando voltou -, é preciso que o senhor Goriot seja bastante rico na verdade para as apetrechar dessa forma. Veja lá que na esquina da Estrapade estava uma carruagem magnífica para a qual ela subiu.
Durante o jantar, a senhora Vauquer foi puxar uma cortina para impedir que Goriot fosse perturbado por um raio de sol que lhe caía sobre os olhos.
- É amado pelas belas, senhor Goriot, o sol anda atrás de si - disse, fazendo alusão à visita que ele tinha tido. - Que diabo! Tem bom gosto, ela era bem bonita.
- Era a minha filha - disse com uma espécie de orgulho no qual os pensionistas quiseram ver a presunção de um velho que quer manter as aparências.
Um mês após esta visita, o senhor Goriot teve outra. A filha que, na primeira vez, tinha vindo com fato de manhã, veio após o jantar vestida para ir sair à noite! Os pensionistas, ocupados a conversar no salão, puderam ver uma bela loira, magra, graciosa e demasiado distinta para ser a filha do pai Goriot.
- E vão duas! - disse a gorda Sylvie, que não a reconheceu. Alguns dias mais tarde, uma outra rapariga, grande e bem feita, morena, de cabelos pretos e olhos vivos, perguntou pelo senhor Goriot.
- E vão três! - disse Sylvie.
Esta segunda rapariga, que na primeira vez também tinha vindo ver o pai de manhã, veio alguns dias mais tarde, à noite, vestida para ir ao baile e numa carruagem.
- E vão quatro! - disseram a senhora Vauquer e a gorda Sylvie, que não reconheceram nesta grande mulher nenhum vestígio da rapariga vestida simplesmente na manhã da primeira visita.