O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 265 / 279

.. Os meus dois genros mataram as minhas filhas. Sim, não tive mais filhas depois de elas terem casado. Pais, dizei às câmaras para fazer uma lei sobre o casamento! Enfim, não casai as vossas filhas se as amardes. O genro é um malvado que estraga tudo numa rapariga, suja tudo. Acabem com os casamentos! É isso que nos tira as filhas, e não as temos mais quando morremos. Fazei uma lei sobre a morte dos pais. Isto é assustador! Vingança! São os meus genros que as impedem de vir! Matai-os! Morte a Restaud, morte ao Alsaciano, são os meus assassinos! A morte ou as minhas filhas! Ah! Está tudo acabado, morro sem elas! Elas! Nasie, Fifine, vamos, vinde lá! O vosso pai sai...

- Meu bom pai Goriot, acalmai-vos, vejamos, ficai tranquilo, não vos agiteis, não penseis.

- Não as ver, eis a agonia!

- Mas vai vê-las.

- Verdade! - gritou o velhote. desorientado. - Oh! Vê-las! Vou vê-las, ouvir a voz delas. Morrerei feliz. Pois bem, sim, não peço mais a vida, já não me interessava, as minhas penas só iam aumentando. Mas vê-las, tocar os vestidos delas, ah! Só os vestidos, é bem pouco, mas sinto algo que lhes pertence! Penteai-me os cabelos... quero...

Deixou cair a cabeça na almofada como se recebesse um murro. As mãos agitaram-se sobre a coberta como que para apanhar os cabelos das filhas.

- Bendigo-as - disse, fazendo um esforço -, bendigo-as. Desmaiou de repente. Nesse momento, Bianchon entrou.

- Encontrei Christophe - disse -, vai trazer-te um carro. - Depois olhou para o doente, levantou-lhe as pálpebras, e os dois estudantes viram um olho sem vida e vazio - Ele não voltará a si - disse Bianchon -, não creio. - Mediu o pulso, apalpou-o, pôs a mão sobre o coração do bom homem.

- A máquina continua a trabalhar, mas, na situação dele, é uma desgraça, seria preferível que morresse!

- Na verdade, tens razão - disse Rastignac.





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