Goriot ainda pagava mil e duzentos francos de pensão. A senhora Vauquer achou normal que um homem rico tivesse quatro ou cinco amantes e achou-o até bastante esperto ao fazê-las passar por filhas. Não fez qualquer comentário sobre o facto de ele as receber na Casa Vauquer. Mas, como essas visitas lhe explicavam a indiferença que o pensionista tinha para com ela, permitiu-se, no início do segundo ano, chamá-lo de velho estafermo. Por fim, quando o pensionista veio cair aos novecentos francos, perguntou-lhe com insolência o que ele pensava fazer da casa dela, ao ver descer uma dessas damas. O pai Goriot respondeu-lhe que essa dama era a filha mais velha.
- Tem então 36 filhas, é? - disse com aspereza a senhora Vauquer.
- Só tenho duas - respondeu o pensionista com a delicadeza de um homem arruinado que chega a todas as doçuras da miséria.
Por volta do final do terceiro ano, o pai Goriot reduziu ainda mais as suas despesas, subindo para o 3.° andar e ficando a pagar quarenta e cinco francos de pensão por mês. Deixou de fumar, abdicou do cabeleireiro e não pôs mais pó de talco. Quando o pai Goriot apareceu pela primeira vez sem pó de talco, a hospedeira deixou escapar uma exclamação de surpresa vendo a cor dos cabelos dele, cinzento-escuros e esverdeados. A sua fisionomia, que tristezas secretas tinham insensivelmente tornado cada dia mais triste, parecia a mais desgraçada de todas as que rodeavam a mesa. Não restou então dúvida alguma. O pai Goriot era um velho libertino cujos olhos só se tinham poupado da influência maligna dos medicamentos necessários às doenças pela habilidade dos médicos. A cor asquerosa dos cabelos dele provinha dos seus excessos e das drogas que tinha tomado para os prolongar. O estado físico e moral do velho homem dava razão aos falatórios.
