O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 276 / 279

O estudante em medicina encarregou-se por isso ele próprio de pôr o cadáver num caixão de pobre que mandou trazer do hospital, onde conseguiu melhor preço.

- Prega uma partida a esses engraçadinhos - disse a Eugène.

- Vai comprar um terreno por cinco anos, ao Pere-Lachaise, e encomenda um serviço de terceira classe na igreja e na casa mortuária. Se os genros e as filhas recusam reembolsar-te, mandarás gravar no túmulo: «Aqui está o senhor Goriot, pai da condessa de Restaud e da baronesa de Nucingen, enterro pago graças à boa vontade de dois estudantes.»

Eugène só seguiu o conselho do amigo após ter ido, sem qualquer êxito, a casa do senhor e senhora de Nucingen e do senhor e senhora de Restaud. Não foi mais longe do que a porta. Cada um dos porteiros tinha ordens severas.

- O senhor e a senhora - disseram - não recebem ninguém; o pai deles morreu e estão entregues à mais intensa dor.

Eugène tinha experiência suficiente do mundo parisiense para saber que não devia insistir. O coração dele ficou estranhamente apertado quando se viu impossibilitado de chegar até Delphine.

«Venda um vestido, escreveu-lhe na casa do porteiro, e que seu pai seja decentemente conduzido até à sua última morada.»

Fechou a carta e pediu por favor ao porteiro do barão para entregar a mesma a Thérèse para a sua patroa, mas o porteiro entregou-a ao barão de Nucingen que a lançou para o lume. Após ter tratado de tudo, Eugène voltou por volta das 15 horas à pensão burguesa e não pode conter uma lágrima quando avistou nessa porta travessa o caixão apenas coberto com um lençol preto, colocado sobre duas cadeiras nessa rua deserta. Um péssimo aspersório, em que ninguém tinha tocado ainda, mergulhava num prato de cobre prateado cheio de água benta.





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