O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 277 / 279

A porta nem sequer tinha uma faixa preta. Era a morte dos pobres, que não tem nem grandiosidades, nem acompanhantes, nem amigos, nem parentes. Bianchon, obrigado a ficar no hospital, tinha escrito umas palavras a Rastignac para lhe dar conta do que tinha tratado com a igreja. O interno dizia-lhe que uma missa era demasiado cara, que tinham de se contentar com o serviço mais barato das vésperas, e que tinha enviado Christophe com um bilhete à casa funerária. No momento em que Eugène acabava de ler os rabiscos de Bianchon, viu nas mãos da senhora Vauquer o medalhão de caixilho de ouro onde estavam os cabelos das duas filhas.

- Como ousou você tirar isso? - disse-lhe.

- Ora essa! Tinha de ser enterrado com ele? - respondeu Sylvie - É de ouro.

- Sem dúvida! - retomou Eugène com indignação. - Que leve pelo menos com ele a única coisa que possa representar as suas duas filhas.

Quando o carro fúnebre chegou, Eugène mandou subir o caixão, tirou-lhe os pregos, e colocou religiosamente sobre o peito do velhote uma imagem que vinha do tempo em que Delphine e Anastasie eram jovens, virgens e puras, e não pensavam, como ele o tinha dito nos seus gritos de agonizante. Rastignac e Christophe acompanharam sozinhos, com dois empregados dos serviços fúnebres, o carro que levava o pobre homem a Saint-Etienne-du-Mont, igreja que estava perto da Rua Neuve-Sainte-Cenevieve. Chegados lá, o corpo foi colocado numa pequena capela baixa e sombria, na qual o estudante buscou em vão a presença das duas filhas do pai Goriot ou os maridos das mesmas. Estava só com Christophe, que se julgava obrigado a render as últimas homenagens a um homem que lhe tinha feito ganhar algumas boas gorjetas. Enquanto esperavam os dois padres, o menino de coro e o sacristão, Rastignac apertou a mão de Christophe, sem conseguir pronunciar uma palavra.





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