- Como ousou você tirar isso? - disse-lhe.
- Ora essa! Tinha de ser enterrado com ele? - respondeu Sylvie - É de ouro.
- Sem dúvida! - retomou Eugène com indignação. - Que leve pelo menos com ele a única coisa que possa representar as suas duas filhas.
Quando o carro fúnebre chegou, Eugène mandou subir o caixão, tirou-lhe os pregos, e colocou religiosamente sobre o peito do velhote uma imagem que vinha do tempo em que Delphine e Anastasie eram jovens, virgens e puras, e não pensavam, como ele o tinha dito nos seus gritos de agonizante. Rastignac e Christophe acompanharam sozinhos, com dois empregados dos serviços fúnebres, o carro que levava o pobre homem a Saint-Etienne-du-Mont, igreja que estava perto da Rua Neuve-Sainte-Cenevieve. Chegados lá, o corpo foi colocado numa pequena capela baixa e sombria, na qual o estudante buscou em vão a presença das duas filhas do pai Goriot ou os maridos das mesmas. Estava só com Christophe, que se julgava obrigado a render as últimas homenagens a um homem que lhe tinha feito ganhar algumas boas gorjetas. Enquanto esperavam os dois padres, o menino de coro e o sacristão, Rastignac apertou a mão de Christophe, sem conseguir pronunciar uma palavra.