Sobretudo a Rua Neuve-Sainte-Geneviêve é como uma moldura de bronze, a única adequada a este relato, no qual não se saberia muito bem juntar inteligência com cores castanhas, com ideias graves; tal como, de escalão em escalão, o dia diminui e o canto do condutor se torna mais fundo, enquanto o viajante desce às Catacumbas. Comparação verdadeira! Quem decidirá o que é mais horrível de ver, corações ressentidos, ou crânios vazios?
A fachada da pensão dá para um pequeno jardim, de forma que a casa cai em ângulo recto sobre a Rua Neuve-Sainte-Geneviêve, onde a vêem cortada na sua profundeza. Ao longo dessa fachada, entre a casa e o pequeno jardim, reina um conjunto de brita em forma de tanque, bastante largo, em frente do qual está uma álea de areia, bordada a gerânios, loureiros-rosa e romãzeiras plantados em grandes vasos de faiança azul e branca. Entra-se nessa álea por uma porta intermédia, que tem no cimo um letreiro onde se lê: Casa Vauquer, e por baixo: Pensão burguesa de ambos os sexos. Durante o dia uma porta gradeada, com uma campainha irritante, deixa entrever ao fim da pequena calçada, no muro do lado oposto à rua, uma arcada pintada em mármore verde por um artista do bairro. Debaixo da cavidade que simula esta pintura ergue-se uma estátua representando o amor. Pelo verniz escamado que a cobre, os amadores de símbolos talvez aí descobrissem um mito do amor parisiense que se cura a alguns passos dali. Por baixo do pedestal esta inscrição quase sumida lembra o momento em que foi feito este ornamento pelo entusiasmo testemunhado por Voltaire, chegado a Paris em 1777:
Quem quer que sejas, eis o teu mestre:
Ele é-o, foi ou deveria sê-lo.
Ao cair da noite, a porta intermédia é substituída por uma porta definitiva.