O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 33 / 279

cujo espírito e ardor eram aumentados por uma forma de ser elegante e por uma espécie de beleza nervosa à que as mulheres sucumbiam facilmente? Essas ideias assaltaram-no no meio dos campos, durante os passeios que antigamente fazia alegremente com as irmãs, que o acharam bem diferente. A tia, a senhora de Marcillao, outrora apresentada na Corte, tinha aí conhecido sumidades aristocráticas. De repente, o jovem ambicioso reconheceu, nas lembranças com que a tia o tinha diversas vezes embalado, os elementos de várias conquistas sociais, pelo menos tão importantes quanto as que tinha na Escola de Direito; fez-lhe perguntas sobre os laços de parentesco que ainda se podiam reatar. Após ter abanado os ramos da árvore genealógica, a velha senhora estimou que, de todas as pessoas que podiam servir o sobrinho por entre o rol de egoístas dos parentes ricos, a senhora viscondessa de Beauséant seria a menos recalcitrante. Escreveu a essa jovem mulher uma carta no estilo antigo e entregou-a a Eugene, dizendo-lhe que, se tivesse êxito junto da vis condessa, ela apresentar-lhe-ia outros parentes. Alguns dias após a sua chegada, Rastignac enviou a carta da tia à senhora de Beauséant. A viscondessa respondeu com um convite para um baile do dia seguinte.

Tal era a situação geral da pensão burguesa no fim do mês de Novembro de 1819. Alguns dias mais tarde, Eugene, após ter ido ao baile da senhora de Beauséant, voltou por volta das duas horas da manhã. Para recuperar tempo perdido, o estudante corajoso tinha-se prometido, ao dançar, trabalhar até de manhã. Ia pela primeira vez passar a noite no meio desse silencioso bairro, pois tinha caído sob o charme de uma falsa energia ao ver os esplendores do mundo. Não tinha jantado na senhora Vauquer. Os pensionistas puderam então pensar que só voltaria do baile de manhãzinha, como por vezes tinha voltado das festas do Prado ou dos bailes do Odéon, enlameando as meias de vidro e estragando os sapatos.





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