«Mas seria então um ladrão ou um receptador que, para se entregar com mais segurança ao seu trabalho, afectaria a ignorância, a impotência, e viveria mendigando?», pensou Eugene, levantando-se por um momento. O estudante colocou de novo o olho na fechadura. O pai Goriot, que tinha desenrolado o cabo, pegou na massa de prata, colocou-a sobre a mesa após lá ter estendido o seu cobertor e enrolou-a para lhe dar a forma 'de uma barra, operação que desempenhou maravilhosamente.
«Seria então tão forte quanto o era Augusto, rei da Polónia?», pensou Eugène quando a barra redonda ficou mais ou menos formada. O pai Goriot olhou a sua obra com um ar triste, algumas lágrimas saíram-lhe dos olhos, soprou a vela à luz da qual tinha torcido este cobre, e Eugène ouviu-o deitar-se com um grande suspiro. «É maluco», pensou o estudante.
- Pobre criança! - disse em voz alta o pai Goriot.
Ao ouvir estas palavras, Rastignac achou prudente guardar silêncio sobre este acontecimento e não condenar sem justa causa o vizinho. Ia voltar para o quarto quando distinguiu de repente um barulho um pouco difícil de exprimir e que devia ser produzido por homens com sapatos de ourela que subiam a escada. Eugene esticou a orelha e reconheceu com efeito o som alternado da respiração de dois homens. Sem ter ouvido nem o barulho da porta nem os passos deles, viu de repente uma luz fraca no 2.0 andar, no aposento do senhor Vautrin. «Mistérios demais para uma pensão burguesa!» pensou. Desceu algumas escadas e pôs-se à escuta, e o som do ouro martelou-lhe os ouvidos. Depressa a luz se apagou e as duas respirações fizeram-se ouvir mais uma vez sem que a porta tivesse chiado. Depois, à medida que os dois homens desciam, o barulho foi enfraquecendo.
- Quem está aí? - gritou a senhora Vauquer, abrindo a janela do quarto.
