O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 38 / 279

- Sou eu que venho a chegar, mamã Vauquer - disse Vautrin com a sua voz grossa.

«É estranho! O Christophe tinha fechado a porta à chave», pensou Eugene voltando para o quarto.

É preciso estar atento ao que se passa à nossa volta em Paris. Desviado por esses pequenos acontecimentos da sua meditação amorosa tão ambicionada, pôs-se a trabalhar. Distraído pela desconfiança que tinha acerca do pai Goriot, mais distraído ainda pela figura da senhora de Restaud, que de vez em quando se colocava na sua frente como a mensageira de um destino brilhante, acabou por deitar-se e dormir profundamente. Para dez noites de trabalho, os jovens guardam sete de sono. É preciso ter mais de 20 anos para ficar sem dormir.

Na manhã seguinte reinava em Paris um desses espessos nevoeiros que o envolvem e obscurecem tão bem que as pessoas mais pontuais são enganadas pelo tempo. Os encontros de negócio falham. Todos pensam ser oito horas quando bate meio-dia. Eram nove horas e trinta minutos e a senhora Vauquer ainda não se tinha mexido na cama. Christophe e a gorda Sylvie, atrasados também, tomavam tranquilamente o café, prepa rado com as camadas superiores do leite dos pensionistas e que Sylvie fazia ferver durante muito tempo, para que a senhora Vauquer não se apercebesse desta dízima retirada ilegalmente.

- Sylvie - disse Christophe molhando a primeira torrada -, o senhor Vautrin, que apesar de tudo é um bom homem, encontrou-se novamente com duas pessoas esta noite. Se a senhora perguntar algo, não se deve dizer-lhe nada.

- Deu-te alguma coisa?

- Deu-me cem moedas para o mês dele, uma maneira de dizer: cala-te.

- Só ele e a senhora Couture é que não são agarrados ao dinheiro, os outros seriam capazes de nos tirar com a mão esquerda o que nos dão com a direita no dia de Ano Novo - disse Sylvie.





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