O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 39 / 279

- E para o que dão! - respondeu Christophe -, uma moeda velha, e de cem vinténs. Já há dois anos que o pai Goriot faz ele próprio os sapatos. O Poiret não quer graxa e preferiria bebê-la a ter de a gastar nos sapatos. Quanto ao magricelas do estudante, dá-me quarenta moedas. Quarenta moedas não pagam as minhas escovas, e vende os fatos velhos ainda por cima. Que casa esta!

- Ora! - disse Sylvie, bebendo pequenos golos de café. - Os nossos lugares ainda são os melhores do bairro: aqui vive-se bem. Mas a respeito do gordo papá Vautrin, Christophe, disseram-lhe alguma coisa?

- Sim. Encontrei há alguns dias um senhor na rua que me disse: «Não é na sua casa que mora um senhor gordo que pinta as suíças?» Eu respondi-lhe: «Não, senhor, não as pinta. Um homem alegre como ele não tem tempo para isso.» Contei então o sucedido ao senhor Vautrin que me respondeu: «Fizeste bem, meu rapaz! Responde sempre dessa forma. Nada é mais desagradável do que deixar conhecer as nossas fraquezas. Podemos com isso perder casamentos.»

- Pois olha, a mim, no mercado, quiseram enganar-me também, para saber se eu o via passar a camisa. Que brincadeira de mau gosto! Olha - disse, interrompendo-se -, já são um quarto para as dez a tocar no Val-de-Grâce e ninguém se mexe nesta casa.

- Olha! Saíram todos. A senhora Couture e a sua jovem companheira

foram comer a hóstia a Saint Etienne às oito horas. O pai Goriot saiu com um embrulho. O estudante só voltará depois das aulas, por volta das dez horas. Vi-os sair quando lavava as escadas. O pai Goriot até me bateu sem querer com aquilo que levava, que era duro como ferro. Que raio faz esse homenzinho? Os outros fazem dele gato-sapato, mas é um bom homem no fundo e que vale mais do que os outros todos juntos.





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