Não me dá muito, mas as senhoras à casa de quem me manda, por vezes, deixam cair gorjetas bem recheadas e são bem elegantes.
- Aquelas a que chama filhas, não é? São para aí uma dúzia.
- Sempre fui apenas à casa de duas, as mesmas que vieram aqui.
- A senhora já se está a mexer, vai fazer um trinta e um, tenho de ir. Olha pelo leite, Christophe, por causa do gato.
Sylvie subiu ao quarto da patroa.
- Como pode ser, Sylvie, já um quarto para as dez, deixou-me dormir como uma marmota! Nunca tal me tinha acontecido. - É o nevoeiro, está de cortar à faca.
- Mas e o pequeno-almoço?
- Ora! Os seus pensionistas tinham o fogo no rabo, saíram todos ao alverecer.
-. Fala bem, Sylvie - retomou a senhora Vauquer -, não é assim que se pronuncia.
- Ah! Senhora, digo como lhe apetecer. Tanto é que pode almoçar por volta das dez horas. A Michonette e o Poireau ainda não se levantaram. Só eles estão em casa e dormem profundamente como é costume.
- Mas, Sylvie, pô-los os dois no mesmo saco, como se...
- Como se o quê? - continuou Sylvie, deixando escapar uma grande gargalhada inocente. - Os dois ficam muito bem juntos.
- É estranho, Sylvie, como é que o senhor Vautrin entrou esta noite depois de Christophe ter corrido os ferrolhos?
- Pelo contrário, senhora. Ouviu subir o senhor Vautrin e desceu para lhe abrir a porta. Aqui está o que pensou ser...
- Dá-me a combinação e vai depressa ver o almoço. Arranja o resto do carneiro com batatas e dá pêras cozidas, das que custam duas moedas a peça.
Alguns momentos depois, a senhora Vauquer desceu no momento em que o gato acabava de entornar com uma patada o prato que tapava uma malga de leite e o bebia apressadamente.
- Mistigris! - gritou.
O gato fugiu e depois veio enroscar-se nas pernas dela.