O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 6 / 279

Esta primeira divisão exala um cheiro sem nome definível e que teria de ser o cheiro a pensão. Cheira a fechado, a mofo, a ranço; provoca arrepios de frio, é húmido, penetra nas roupas; tem o gosto de uma sala onde se comeu; fede a trabalho, a despensa, a asilo. Talvez se pudesse descrever se inventássemos um processo para avaliar as quantidades elementares e nauseabundas que para lá atiram as atmosferas catarrais e sui generis de cada pensionista, jovem ou velho. Pois bem! apesar destes enfadonhos horrores, se a comparassem com a sala de jantar, que lhe é contígua, achariam este salão elegante e perfumado como o deve ser a salinha íntima de uma senhora elegante. Esta sala, inteiramente em madeira, foi em tempos pintada com uma cor hoje indistinta, que forma um fundo sobre o qual a sujidade imprimiu as suas camadas de maneira a aí desenhar figuras estranhas. Está revestida com louceiros pegajosos sobre os quais estão garrafas em meia-lua, embaciadas, argolas em metal brilhante, pilhas de pratos de porcelana grossa, de bordos azuis, fabricada em Tournai. Num recanto está colocada uma caixa com divisões numeradas que serve para guardar os guardanapos, com manchas ou com vinho, de cada pensionista. Encontram-se aí esses móveis indestrutíveis, proscritos em todo o lado, mas aqui colocados como o são os cacos da civilização nos Incurables. Veriam aí um barómetro com um capuchinho que sai quando chove, gravuras execráveis que tiram o apetite, todas encaixilhadas em madeira envernizada com fios dourados; um relógio de parede incrustado em cobre; um fogão de aquecimento verde, candeeiros de bomba de Argand onde o pó se mistura com o óleo, uma mesa comprida tapada com um oleado tão gorduroso onde se poderia escrever o nome utilizando




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