Consentiu com um movimento de cabeça ao pedido do cocheiro. Sem ter mais de vinte e duas moedas no bolso, subiu para o carro onde alguns ramos de flores de laranjeira e fiozinhos de ouro marcavam a passagem dos noivos.
- Onde vai o senhor? - perguntou o cocheiro, que já não tinha as luvas brancas.
«Ora essa!», pensou Eugène. «Se estou a afundar-me, tem de pelo menos servir para alguma coisa! »
- Ao Hotel de Beauséant! - disse em voz alta.
- Qual deles? - disse o cocheiro.
Palavra sublime que confundiu Eugène. Este inédito elegante não sabia que havia dois hotéis de Beauséant, não sabia a riqueza que tinha em parentes que não se preocupavam com ele.
- O visconde de Beauséant, na rua...
- De Grenelle - disse o cocheiro, abanando a cabeça e interrompendo-o. - É que, veja, há também o hotel do conde e do marquês de Beauséant, na Rua de Saint-Dominique - acrescentou, pondo-se em andamento.
- Sei bem disso - respondeu Eugène, secamente. - Hoje toda a gente goza comigo! - disse, atirando o chapéu para os lugares da frente. «Eis aqui uma viagem que me vai custar a ração de um rei. Mas, pelo menos, vou fazer a minha visita à... à que se diz prima de uma forma solidamente aristocrática. O pai Goriot já me custa pelo menos dez francos, velho maldito! Pelo menos, vou contar a minha aventura à senhora de Beauséant, talvez a faça rir. Saberá talvez o mistério das ligações criminosas desse velho rato sem cauda e dessa bela mulher. Mais vale agradar à minha prima do que continuar a bater em vão contra esta mulher imoral, que me parece ficar bem cara. Se o nome da bela viscondessa é tão poderoso, que peso pode então ter a sua pessoa? Vamos directamente bater ao andar de cima. Quando atacamos algo no céu, temos de apontar para Deus!»
Estas palavras são a fórmula breve dos mil e um pensamentos nos quais flutuava.
