O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 65 / 279

Pouco a pouco retomou um pouco a calma e a segurança vendo cair a chuva. Pensou que, se ia gastar as duas preciosas moedas de cem que lhe restavam, seriam bem empregues na conservação do fato, das botas e do chapéu. Não conteve um movimento de hilaridade quando ouviu o cocheiro gritar:

- A porta, por favor!

Um porteiro vestido de vermelho fez chiar as dobradiças da porta do hotel e Rastignac viu com uma doce satisfação o seu carro passar debaixo do pórtico, virando no pátio e parando debaixo do pórtico da entrada. O cocheiro com um espesso casaco azul bordado de vermelho veio desdobrar o estribo da carruagem. Ao descer da viatura, Eugène ouviu risos abafados que saíam de baixo do peristilo. Três ou quatro criados já tinham gozado com esta equipagem de noiva vulgar. Os seus risos iluminaram o estudante ao comparar esse carro com uma das mais elegantes viaturas de Paris, atrelada com dois belos cavalos que tinham rosas nas orelhas, que mordiam o freio e que um cocheiro bem arranjado, com gravata, segurava pelas rédeas como se quisessem fugir. Na Chaussée d'Antin, a senhora de Restaud tinha no seu pátio o fino cabriolé do homem de 26 anos. No Quartier Saint-Germain, esperava o luxo de um grande senhor, uma equipagem que trinta mil francos não teriam pago.

«Quem poderá aqui estar?», pensou Eugène, compreendendo um pouco tarde que devia haver muito poucas mulheres em Paris que não estivessem ocupadas e que a conquista de uma dessas rainhas custava mais do que o próprio sangue. «Ora essa! Terá a minha prima também o seu Maxime.»

Subiu as escadas da entrada com a morte na alma. Ao chegar à porta envidraçada esta abriu-se; aí encontrou criados sérios como burros que se estão a limpar. A festa a que tinha assistido tinha sido nos grandes apartamentos de recepção, situados no rés-do-chão do Hotel de Beauséant.





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