O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 73 / 279

- Ah!

- Enfim, ele janta lá hoje, as condições estão acordadas. Espanta-me muito que esteja tão pouco ao corrente da situação.

- Que asneira fez então, senhor? - disse a senhora de Beauséant. Esta pobre criança acabou tão recentemente de ser lançada no mundo que não percebe nada, minha querida Antonieta, do que dizemos. Seja boa para ele, deixemos este assunto para amanhã. Amanhã, sabe, talvez tudo esteja oficializado e poderá falar com toda a certeza.

A duquesa lançou sobre Eugène um desses-olhares impertinentes que envolvem um homem dos pés à cabeça, o diminuem e reduzem a nada.

- Senhora, sem o saber, espetei no coração da senhora de Restaud um punhal. Sem o saber, eis o meu erro - disse o estudante, cujo génio o tinha dotado o suficiente e que tinha descoberto as mordazes epígrafes escondidas debaixo das frases afectuosas dessas duas mulheres. - Continua a ver e talvez tema as pessoas que estão no segredo do mal que nos fazem, enquanto aquele que fere ignorando a profundidade da ferida é visto corno um estúpido, um desajeitado que não sabe aproveitar nada, e todos o menosprezam.

A senhora de Beauséant deitou ao estudante um desses olhares derretidos onde as grandes almas sabem meter ao mesmo tempo reconhecimento e dignidade. Esse olhar foi como um bálsamo que acalmou a ferida que tinha acabado de fazer no coração do estudante o olhar de cobrador com o qual a duquesa o tinha avaliado.

- Veja você que tinha acabado - disse Eugène, continuando - de captar a atenção do conde de Restaud, pois - disse, virando-se para a duquesa com um ar ao mesmo tempo malicioso e humilde -tenho que lhe dizer, senhora, que ainda só sou apenas um pobretanas de um estudante, bem só, bem pobre...

- Não diga isso, senhor de Rastignac.





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