O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 74 / 279

Nós, as mulheres, nunca queremos aquilo que os outros não querem.

- Ora! - exclamou Eugène. -Tenho apenas 22 anos, tem de se saber suportar as desgraças da idade. Além disso, estou a confessar-me, e é impossível pôr-se de joelhos num confessionário mais belo do que este: aqui se fazem os pecados que nos recriminamos de ter feito no outro.

A duquesa adoptou um ar frio com este discurso anti-religioso, cujo mau gosto prescreveu dizendo à viscondessa:

- O senhor acaba de...

A senhora de Beauséant desatou a rir com vontade tanto do primo como da duquesa.

- Acaba de chegar, minha querida, e procura uma professora que lhe ensine o bom gosto.

- Senhora duquesa - retomou Eugène -, não é natural querer iniciar-se aos segredos daquilo que nos encanta? «Caramba» pensou para consigo «tenho a certeza que estou a fazer-lhes frases dignas de um cabeleireiro.»

- Mas a senhora de Restaud é, penso, aluna do senhor de Trailles - disse a duquesa.

- Nada disso sabia, senhora - retomou o estudante. - Por isso deitei-me cegamente entre eles. Enfim, já me tinha bastante bem entendido com o marido, via que a mulher teria de me aturar durante um certo tempo, quando me lembrei de lhes dizer que conhecia um homem que tinha acabado de ver sair por uma escada escondida e que tinha no fundo de um corredor beijado a condessa.

- Quem era? - disseram as duas mulheres.

- Um velhote que vive por dois luíses ao mês, no fundo do Quartier

Saint-Marceau, como eu, pobre estudante, um verdadeiro infeliz que toda a gente goza a quem chamamos pai Goriot.

- Mas que ingénuo - gritou a viscondessa. - A senhora de Restaud é uma menina Goriot.

- A filha de um fabricante de aletria - continuou a duquesa. - Uma mulher pequena que se fez apresentar no mesmo dia que a filha de um pasteleiro.





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