O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 8 / 279

O recluso não vive sem a polícia, não poderiam imaginar um sem o outro. O bom aspecto insípido desta pequena mulher é o produto desta vida, como o tifo é a consequência das exalações de um hospital. O seu saiote tricotado em lã, que assoma por baixo da primeira saia feita com um vestido antigo, e cujo chumaço sai pelas fendas do tecido gretado, resume o salão, a sala de jantar; o pequeno jardim anuncia a cozinha e faz pressentir os pensionistas. Quando ela ali está o espectáculo é completo. Com mais ou menos 50 anos, a senhora Vauquer é parecida com todas as mulheres que viveram infelizes. Tem o olhar sem brilho, o ar inocente de uma alcoviteira que vai atiçar para depois se fazer rogada, mas além disso pronta a tudo para melhorar a sua sorte, pronta a entregar Georges ou Pichegru, se um ou outro ainda se pudessem entregar. No entanto, no fundo é boa mulher, dizem os pensionistas, que pensam que ela não tem dinheiro por ouvi-la gemer e tossir como eles. Quem foi o senhor Vauquer? Ela nunca dava explicações acerca do defunto. Como tinha ele perdido a sua fortuna? Nos infortúnios, respondia ela. Agira mal com ela, só lhe deixando os olhos para chorar, esta casa para viver e o direito de não se compadecer com todo e qualquer infortúnio, porque, dizia, tinha sofrido tudo o que era possível sofrer. Ao ouvir os passinhos da patroa, a gorda Sylvie, a cozinheira, apressava-se a servir o pequeno-almoço dos pensionistas internos.

Geralmente, os pensionistas externos só vinham para o jantar, que custava trinta francos por mês. Na época em que esta história começa, os internos eram sete. No 1.º andar encontravam-se os dois melhores apartamentos da casa. A senhora Vauquer habitava o mais pequeno e o outro pertencia à senhora Couture, viúva de um Comissário Ordenador da República francesa.





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