Capítulo 1: O PAI GORIOT
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Tinha consigo uma pessoa muito jovem, chamada Victorine Taillefer, a quem servia de mãe. A pensão destas duas senhoras elevava-se a 1800 francos. Os dois apartamentos do 2.° andar estavam ocupados, um por um velho chamado Poiret, o outro, por um homem com cerca de 40 anos, que usava uma peruca preta, pintava as suíças, dizia-se negociante e se chamava senhor Vautrin. O 3.° andar compunha-se de quatro quartos, dois dos quais estavam alugados, um a uma menina chamada Michonneau, o outro a um antigo fabricante de aletria, de massas italianas e de amido, conhecido por pai Goriot. Os outros dois quartos estavam destinados aos visitantes, a esses infelizes estudantes que, como o pai Goriot e a menina Michonneau, só podiam dispor de 45 francos por mês para a comida e o alojamento, mas a senhora Vauquer não desejava a presença deles e só os aceitava quando não encontrava ninguém melhor, comiam demasiado pão. Nesta altura, um dos dois quartos pertencia a um jovem que viera da região de Angoulême para Paris para aí estudar Direito e cuja família numerosa se submetia a grandes privações para lhe enviar dois mil francos por ano. Eugêne de Rastignac, de seu nome, era um desses jovens habituados ao trabalho devido aos infortúnios que compreendem desde tenra idade as esperanças que os pais depositam neles e que preparam um belo destino, calculando já o alcance dos seus estudos, e adaptando-os antecipadamente ao movimento futuro da sociedade, para serem os primeiros a esmagá-la. Sem as suas observações curiosas e a habilidade com que soube introduzir-se nos salões de Paris, este relato não teria as cores da verdade que deverá sem dúvida ao seu espírito sagaz e ao seu desejo de penetrar os mistérios de uma situação assustadora, tão cuidadosamente escondida tanto por aqueles que a tinham criado como pelos que a suportavam.
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