Rastignac estava arrasado nesta altura por estas palavras:
Você próprio fechou a porta da condessa. «Irei!», pensava. «E se a senhora de Beauséant tem razão, se a porta me for vedada... eu... A senhora de Restaud irá encontrar-me em todos os salões onde for. Aprenderei esgrima, a atirar, matarei esse Maxime! E dinheiro!», gritava-lhe a sua consciência. «Onde irás buscá-lo?» De repente, toda a riqueza exposta na casa da condessa de Restaud brilhou na sua mente. Tinha aí visto o luxo pelo qual uma menina Goriot devia estar apaixonada, dourados, objectos caros sem dúvida, o luxo inteligente do novo-rico, os gastos de uma mulher mantida. Esta fascinante imagem foi repentinamente esmagada pela grandiosidade do hotel de Beauséant. A sua imaginação, transportada nas altas regiões da sociedade parisiense, inspirou-lhe mil pensamentos maldosos no coração, alargando-lhe a cabeça e a consciência. Viu o mundo como ele era: as leis e a moral impotentes nos ricos e viu na fortuna o
ultimo ratio mundi. «Vautrin tem razão, a fortuna é a virtude!», pensou.
Chegado à Rua Neuve-Sainte-Geneviêve, subiu rapidamente ao seu quarto, desceu para dar dez francos ao cocheiro e entrou nessa sala de jantar nauseabunda onde avistou, como animais na manjedoura, os dezoito convivas repastando-se. O espectáculo dessas misérias e o aspecto dessa sala pareceram-lhe terríveis. A transição era demasiado brusca, o contraste demasiado completo, para não lhe desenvolver em larga escala o sentimento 'da ambição. Por um lado, as frescas e encantadoras imagens da natureza social mais elegante, figuras jovens, vivas, envolvidas pelas maravilhas da arte e do luxo, cabeças apaixonadas cheias de poesia; por outro, quadros sinistros bordados de lama e caras onde as paixões tinham apenas deixado as cordas e o mecanismo.