- Assim o farei - disse Eugène.
- Entrou então hoje para a cruzada?
- Talvez - respondeu Rastignac. - Mas não tenho contas a dar das minhas coisas a ninguém, como também não tento adivinhar o que os outros fazem de noite.
Vautrin olhou Rastignac de lado.
- Meu rapaz, quando não queremos ser paus-mandados tem de se entrar totalmente no jogo e não contentar-se em olhar pelo buraco da fechadura. Basta de falatório - acrescentou, vendo Eugène pronto a ripostar. - Teremos os dois dois dedos de conversa quando o desejar.
O jantar tornou-se sombrio e frio. O pai Goriot, absorvido pela profunda dor que lhe tinha causado a frase do estudante, não compreendeu que os partidos em relação a ele tinham mudado e que um jovem rapaz preparado para impor silêncio à sua persecução o tinha defendido.
- O senhor Goriot - disse a senhora Vauquer em voz baixa - seria então o pai de uma condessa dessas?
- E de uma baronesa - respondeu-lhe Rastignac.
- É mesmo isso - disse Bianchon a Rastignac -, apalpei-lhe a cabeça, só tem um galo, o da paternidade, será um pai Eterno.
Eugène estava demasiado sério para que a brincadeira de Bianchon o fizesse rir. Queria aproveitar os conselhos da senhora de Beauséant, e perguntava-se onde e como iria arranjar dinheiro. Ficou de repente preocupa'do vendo a floresta do mundo a desfilar à sua frente; todos o deixaram sozinho na sala de jantar quando acabaram de comer.
- Viu então a minha filha? - disse-lhe Goriot com uma voz emocionada.
Acordado da sua meditação pelo velhote, Eugène pegou-lhe na mão, e contemplando-o com uma espécie de ternura:
- O senhor é um homem digno e honrado - respondeu. - Falaremos das suas filhas mais tarde. Levantou-se sem querer ouvir o pai Goriot e retirou-se para o quarto, onde escreveu à mãe a carta seguinte:
Minha querida mãe, vê se não tens um terceiro seio para mim.
