O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 84 / 279

Estou prestes a fazer fortuna rapidamente. Preciso de 1200 francos, e brevemente. Não fales neste meu pedido a meu pai, talvez fosse contra, e se não tivesse esse dinheiro estaria entregue a um desespero que talvez me levasse a acabar com os meus dias. Irei explicar-te os meus motivos logo que te veja, pois teria de te escrever volumes para te fazer compreender a situação na qual me encontro. Não estive a jogar, minha querida mãe, não devo a ninguém, mas se queres conservar a vida que me deste tens de me arranjar esta quantia. Enfim, vou para a casa da senhora de Beauséant, que se tornou minha protectora. Tenho de entrar no mundo, e não tenho um tostão para ter luvas limpas. Comerei só pão, beberei apenas água, ficarei em jejum se tal for preciso, mas não posso prescindir das ferramentas com as quais se cava a videira neste país.

Trata-se para mim de trilhar o meu caminho ou de ficar na lama. Sei de todas as esperanças que depositaram em mim e quero realizá-las rapidamente. Minha querida mãe, vende algumas das tuas antigas jóias, depressa as substituirei. Conheço bem a situação da nossa família para saber apreciar tais sacrifícios e deves acreditar que não te peço isso em vão, senão seria um monstro. Não vejas no meu pedido apenas o grito de uma necessidade imperiosa. O nosso futuro está todo neste subsídio, com o qual tenho de iniciar a minha cruzada, pois esta vida de Paris é um combate incessante. Se, para completar esta soma, não há outro recurso do que vender os bordados da minha tia, diz-lhe que lhe enviarei outros ainda mais belos.

Escreveu a cada uma das irmãs pedindo-lhes as economias, e, para as arrancar sem que falassem em família do sacrifício que não deixariam de fazer com alegria, tocou a delicadeza delas atacando as cordas da honra que estão tão bem esticadas e ressoam mais forte nos corações jovens.





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