Capítulo 1: O PAI GORIOT
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Após sete anos de felicidade sem nuvens, Goriot, infelizmente para ele, perdeu a mulher: ela começava a dominá-lo, para além do campo sentimental. Talvez tivesse cultivado essa natureza inerte, talvez lá tivesse atirado a inteligência das coisas do mundo e da vida. Nesta situação, o sentimento da paternidade desenvolveu-se em Goriot até ao desvario. Reportou os seus afectos traídos pela morte sobre as duas filhas, que, primeiro, satisfizeram plenamente todos os seus sentimentos. Por mais brilhantes que fossem as propostas que lhe fossem feitas por negociantes ou quinteiros invejosos que lhe queriam dar as filhas, quis continuar viúvo. O sogro, único homem por quem tinha tido um grande afecto, pretendia saber pertinentemente que Goriot tinha jurado não ser infiel à mulher apesar de morta. As pessoas do mercado, incapazes de compreender esta loucura sublime, gozaram-na e deram a Goriot qualquer alcunha grotesca. O primeiro que, bebendo o vinho de um mercado, se lembrou de a pronunciar, recebeu do fabricante de aletria um murro no ombro que o enviou, de cabeça, contra um marco da Rua Oblin. A dedicação irreflectida, o amor colérico e delicado que Goriot dedicava às filhas era tão conhecido, que um dia um dos seus concorrentes, querendo fazê-lo sair do mercado para ficar mestre da praça, disse-lhe que Delphine tinha acabado de ser atropelada por uma carruagem. O velho, pálido e transtornado, deixou imediatamente o Mercado. Ficou doente durante vários dias seguidos devido à reacção dos sentimentos, contraditórios que lhe provocou este falso alarme. Se não deu o seu murro fatal no ombro desse homem, expulsou-o do mercado forçando-o, numa circunstância crítica, a abrir falência. A educação das duas filhas foi naturalmente desregrada. Rico,
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