com mais de 60 000 libras de rendimentos, e só gastando 1200 francos para si, a felicidade de Goriot era satisfazer as fantasias das filhas: os mais excelentes mestres foram encarregados de lhes dar talentos que assinalam uma boa educação; tiveram uma dama de companhia; felizmente para elas, era uma mulher de espírito e de gosto, andavam à cavalo, tinham carro, viviam como teriam vivido as amantes de um velho senhor rico; bastava-lhes exprimir os mais caros desejos para ver o pai a apressar-se a satisfazê-los; só pedia em troca das suas ofertas uma carícia. Goriot punha as filhas à altura dos anjos, e necessariamente acima dele, pobre homem! Amava até o mal que elas lhe faziam. Quando as filhas estiveram em idade de casar, puderam escolher os maridos ao seu gosto: cada uma delas devia ter em dote metade da fortuna do pai. Cortejada pela sua beleza pelo conde de Restaud, Anastasie tinha tendências aristocráticas que a levaram a deixar a casa paterna para se lançar nas altas esferas sociais. Delphine amava o dinheiro, casou com Nucingen, banqueiro de origem alemã que ficou barão do Santo Império. Goriot manteve-se fabricante de aletria. As filhas e os genros depressa ficaram chocados por o ver continuar com esse comércio, apesar de ser toda a sua vida. Após ter suportado durante cinco anos as suas recriminações, consentiu em retirar-se com o produto do trespasse e os benefícios dos últimos anos, capital que a senhora Vauquer, a casa de quem se tinha vindo instalar, tinha avaliado na ordem de 8 a 10000 libras de rendimento. Atirou-se para esta pensão devido ao desespero que o tinha assaltado vendo as duas filhas obrigadas pelos maridos a recusar não só de o terem na casa delas, mas ainda de o receberem abertamente.
Estas informações eram tudo o que sabia um senhor Muret acerca do pai Goriot, a quem tinha comprado o trespasse.
