O Pai Goriot - Cap. 1: O PAI GORIOT Pág. 91 / 279

As suposições que Rastignac tinha ouvido fazer pela duquesa de Langeais estavam desta feita confirmadas. Aqui termina a exposição desta obscura mas assustadora tragédia parisiense.

Por volta do fim da primeira semana do mês de Dezembro, Rastignac recebeu duas cartas, uma da mãe, a outra da irmã mais velha. Estas caligrafias conhecidas provocaram simultaneamente palpitações de contentamento e tremores de medo. Estes dois frágeis papéis continham uma sentença de vida ou de morte das suas esperanças. Se concebera algum terror, lembrando-se do desespero dos pais, tinha demasiado bem visto a sua situação para não temer ter-lhes sugado as últimas gotas de sangue. A carta da mãe apresentava-se nestes moldes.

Meu querido filho, envio-te o que me pediste. Faz bom uso desse dinheiro, pois não poderia, mesmo se se tratasse de te salvar a vida, obter uma segunda vez uma quantia tão volumosa sem que teu pai o soubesse, o que iria abalar a harmonia do nosso casamento. Para o obtermos, seríamos obrigados a hipotecar os nossos terrenos. É-me impossível julgar os méritos de projectos que não conheço, mas de que natureza são para te fazer desta forma recear contá-los a tua mãe? Essa explicação não pediria um tratado, basta-nos uma palavra a nós mães e essa palavra ter-me-ia evitado as angústias da incerteza. Não saberei esconder-te a sensação dolorosa que a tua carta me provocou. Meu querido filho, que sentimento é esse que te obriga a lançar tal mal estar no meu coração? Deves ter sofrido bastante ao escrever-me, pois eu sofri muito ao ler-te. Por que caminho estás a enveredar? A tua vida, a tua felicidade estariam presas a pareceres aquilo que não és, a ver um mundo onde não poderás ir sem fazer despesas de dinheiro que não podes suportar sem perder um tempo precioso nos estudos? Meu bom Eugène, acredita no coração da tua mãe, as vias tortuosas não levam a nada de grande.





Os capítulos deste livro