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Capítulo 1: O PAI GORIOT

Página 98
Mas acredite em mim, meu jovem, frequentai aulas de tiro.

Vautrin fez o gesto de um homem que apontava para o adversário. Rastignac quis dar de beber ao carteiro e não encontrou nada no bolso. Vautrin viu no seu e atirou 20 vinténs ao homem.

- Tem bom crédito - retomou, olhando para o estudante. Rastignac foi obrigado a agradecer, apesar de que desde as palavras trocadas asperamente, no dia em que tinha voltado da casa da senhora de Beauséant, este homem lhe fosse insuportável. Durante oito dias, Eugène e Vautrin tinham ficado silenciosamente na presença um do outro observando-se. O estudante perguntava-se em vão porquê. Talvez as ideias se projectem em proporção com a força com que se criam e vão tocar onde o cérebro as envia, por uma lei matemática comparável àquela que dirige as bombas quando saem do morteiro. Os efeitos delas são diversos. Se existem naturezas ternas onde as ideias se alojam e as destroem, há também naturezas vigorosamente apetrechadas, crânios com protecções de ferro nos quais as vontades dos outros batem e caem como balas frente à muralha; depois ainda há naturezas moles e frouxas onde as ideias de outrem vêm morrer como balas que se enterram na terra mole dos redutos. Rastignac tinha uma dessas cabeças cheias de pó que saltam ao mais pequeno choque. Era de uma juventude demasiado vivaz para não ser sensível a esta projecção das ideias, a esse contágio dos sentimentos, cujos estranhos fenómenos nos atingem sem querermos. A sua visão moral tinha o alcance lúcido dos olhos dos linces. Cada um dos seus duplos sentidos tinha esse comprimento misterioso, essa flexibilidade de ir e voltar que nos maravilha nas pessoas superiores, espadachim hábil em apanhar os defeitos de todas as carapaças. Desde há um mês tinham-se desenvolvido em Eugène tantas qualidades quanto defeitos.

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Capa do livro O Pai Goriot
Páginas: 279
Página atual: 98

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
O PAI GORIOT 1