A Menina de Langeais abriu a caixinha; dentro estava um lenço de cambraia finíssima, manchado de suor. Desdobraram-no e viram que tinha umas nódoas.
- É sangue!... - exclamou o padre.
- Está marcado com a coroa imperial! - murmurou a outra irmã.
As duas irmãs deixaram cair das mãos, com horror, a preciosa relíquia. Para aquelas duas almas ingénuas o mistério que envolvia a figura do desconhecido tornou-se inexplicável, e o padre esse, desde então não mais procurou explicá-lo.
Não tardou que os três prisioneiros percebessem que, apesar do Terror, uma mão poderosa se estendia sobre as suas cabeças. Em primeiro lugar, receberam lenha e provisões de boca; depois as duas religiosas adivinharam que havia uma mulher associada ao seu protector. Foi quando lhes enviaram roupa branca e vestidos que lhes permitiriam sair à rua sem serem notadas pelo corte aristocrático dos trajos obrigadas a conservar; por fim, Mucius Scaevola deu-lhes duas cartas cívicas Por vias indirectas chegaram, por mais do que uma vez, ao conhecimento do sacerdote advertências necessárias à sua segurança; e havia uma tal oportunidade nesses conselhos que só uma pessoa iniciada nos segredos do Estado estaria em condições de os dar. Apesar da fome que lavrou em Paris, os proscritos encontraram sempre à porta do seu pardieiro rações de pão branco, regularmente trazidas por mãos invisíveis; no entanto, julgaram reconhecer em Mucius Scaevola o misterioso agente daquela benemerência, sempre tão engenhosa quanto inteligente. Os nobres habitantes do sótão estavam convencidos de que o seu protector não podia deixar de ser a personagem que viera assistir à missa expiatória da noite de 22 de Janeiro de 1793; por isso se tornou objecto de um culto muito especial para aquelas três criaturas, que dele esperavam tudo e só graças a ele viviam.
