Um Episódio no Tempo do Terror - Cap. 1: UM EPISÓDIO NO TEMPO DO TERROR Pág. 20 / 21

Os três pobres prisioneiros, que compreenderam que aquele homem queria continuar um estranho para eles, resignaram-se. O padre julgou perceber nos lábios do desconhecido um sorriso prontamente reprimido no momento em que se deu conta dos preparativos feitos para o receberem; ouviu a missa e rezou; mas logo desapareceu, depois de corresponder com algumas breves palavras de cortesia negativa ao convite que lhe fizera a Menina de Langeais para partilhar com eles da pequena colação preparada.

Depois do 9 de Termidor, as religiosas e o abade de Marolles puderam ir a Paris sem correr o menor risco. A primeira visita do velho abade foi à perfumaria Rainha das Flores, propriedade do cidadão e da cidadã Ragon, antigos perfumistas da corte, que se haviam mantido fiéis à casa real, e de que se serviam os Vendeanos para se corresponderem com os príncipes e o comité realista de Paris. Estava o padre, vestido como a época o exigia, na soleira da porta dessa loja, situada entre Saínt-Roche e a Rua dos Frondeurs, quando uma multidão que enchia a Rua de Saint-Honoré o impediu de sair.

- Que é? - perguntou ele à Senhora Ragon.

- Não é nada - respondeu ela - é a carreta e o carrasco que se dirigem para a Praça Luís XV. Ah! muitas vezes a vimos o ano passado; mas hoje, quatro dias após o aniversário de 21 de Janeiro, já podemos ver sem mágoa este medonho cortejo.

- Porquê? - perguntou o abade -; não é cristão o que está a dizer.

- Ora! É a execução dos cúmplices de Robespíerre; defenderam-se o mais que puderam, mas lá vão, por sua vez, para onde mandaram tantos inocentes.

A turba passou como uma torrente. Por cima de todas aquelas cabeças o abade de Morolles, impelido por um movimento de curiosidade, viu, de pé, dentro da carreta, aquele que, três dias antes, ouvira a sua missa.





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