Depois do 9 de Termidor, as religiosas e o abade de Marolles puderam ir a Paris sem correr o menor risco. A primeira visita do velho abade foi à perfumaria Rainha das Flores, propriedade do cidadão e da cidadã Ragon, antigos perfumistas da corte, que se haviam mantido fiéis à casa real, e de que se serviam os Vendeanos para se corresponderem com os príncipes e o comité realista de Paris. Estava o padre, vestido como a época o exigia, na soleira da porta dessa loja, situada entre Saínt-Roche e a Rua dos Frondeurs, quando uma multidão que enchia a Rua de Saint-Honoré o impediu de sair.
- Que é? - perguntou ele à Senhora Ragon.
- Não é nada - respondeu ela - é a carreta e o carrasco que se dirigem para a Praça Luís XV. Ah! muitas vezes a vimos o ano passado; mas hoje, quatro dias após o aniversário de 21 de Janeiro, já podemos ver sem mágoa este medonho cortejo.
- Porquê? - perguntou o abade -; não é cristão o que está a dizer.
- Ora! É a execução dos cúmplices de Robespíerre; defenderam-se o mais que puderam, mas lá vão, por sua vez, para onde mandaram tantos inocentes.
A turba passou como uma torrente. Por cima de todas aquelas cabeças o abade de Morolles, impelido por um movimento de curiosidade, viu, de pé, dentro da carreta, aquele que, três dias antes, ouvira a sua missa.