Um Episódio no Tempo do Terror - Cap. 1: UM EPISÓDIO NO TEMPO DO TERROR Pág. 8 / 21

O velho parecia o menos agitado dos três, talvez por ser quem maior perigo corria. Sob o peso de uma grande desgraça ou sob o jugo da perseguição, um homem corajoso principia, por assim dizer, por fazer o sacrifício de si próprio; para ele cada dia que passa é uma vitória ganha contra o destino. Os olhos das duas mulheres, fitos no velho, deixavam facilmente entrever que era ele o único objecto da sua viva solicitude.

- Para que desesperar de Deus, minhas irmãs? - disse ele, numa voz surda, mas untuosa -; cantávamos-lhes hinos no meio dos gritos que soltavam os assassinos e os moribundos no convento dos Carmes. Se ele quis que eu fosse salvo daquela carnificina foi, sem dúvida, para me reservar um destino que eu devo aceitar sem abrir a boca. Deus protege os seus, pode dispor deles a seu talante. De vós, não de mim, é que temos de nos ocupar.

- Não - disse uma das duas velhas -; que vale a nossa vida comparada com a de um padre?

- Uma vez fora dos muros da abadia de Chelles, considero-me como morta - disse uma das duas religiosas que não saíra de casa.

- Aqui tem - voltou a que acabava de chegar, apresentando ao padre a caixinha de cartão. -; aqui tem as hóstias... Mas - exclamou -, estou a ouvir passos na escada!

Os três puseram-se então à escuta... O ruído cessou.

- Não se assustem - acudiu o padre - se alguém tentar vir até nós. Uma pessoa sobre cuja fidelidade podemos contar deve ter tomado todas as precauções para atravessar a fronteira, e virá buscar as cartas que eu escrevi para o duque de Langeais e para o marquês de Beauséant, a fim de que eles possam tornar providências e arrancá-las deste -medonho país, à morte ou à miséria que vos aguarda aqui.

- Não nos acompanhará então? - exclamaram docemente as duas religiosas, manifestando uma espécie de desespero.





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