As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 105 / 339

Quando me exibiam em casa, mesmo que fosse só para uma família, o meu amo exigia o preço do aposento cheio; de forma que, durante algum tempo, ainda que não fosse levado à cidade, tive pouco sossego durante a semana (excepto na quarta-feira que era o seu dia de descanso).

Quando o meu amo descobriu o quanto era rentável, decidiu levar-me às cidades mais importantes do reino. Assim, providenciou tudo o que era necessário para uma longa viagem; resolveu todos os assuntos domésticos, despediu-se da mulher e, a 17 de Agosto de 1703 aproximadamente dois meses depois da minha chegada àquele país partimos para a capital, que está situada quase no centro daquele império, a cerca de três mil milhas de distância da nossa morada. O meu amo pôs a filha à garupa do cavalo, enquanto que ela me transportava no colo, numa caixa presa à cintura. Cobrira todas as paredes com o pano mais fino que pudera encontrar, acolchoou-o e, depois, colocou a cama da sua boneca; proporcionou-me, além disso, a roupa branca e outras coisas necessárias e fez tudo quanto pôde para que eu usufruísse das maiores comodidades. Não levávamos mais companhia que um moço da casa que nos seguia com a bagagem.

A ideia do meu amo era exibir-me em todas as cidades que surgissem pelo caminho e, quando muito, afastar-se do trajecto, de cinquenta a cem milhas, para ir a qualquer aldeia ou vila de nomeada onde pudesse fazer uma boa clientela. Percorríamos fáceis jornadas de cento e quarenta a cento e sessenta milhas diárias, porque Glumdalclitch, sempre atenta ao meu bem-estar, queixava-se de estar cansada do trote do cavalo e amiúde, sempre que queria, retirava-me da caixa para que eu respirasse ar puro e visse a paisagem. De qualquer forma, estava sempre fortemente preso a uma trela.





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